NÃO ACEITO O DIVÓRCIO (CRÍTICA A "DIVORCE")

22:47

Divorce é, possivelmente, a série da HBO mais desinteressante, tanto a nível de tom, como de exploração de personagens e do desenrolar da trama.

Confesso ainda só ter visto dois episódios da mais recente comédia com Sarah Jessica Parker no papel de protagonista. Contudo, basta o episódio piloto de uma série ser fraco para a audiência se dissipar por completo, eliminando as suas hipóteses de sobrevivência. E Divorce, da criadora e actriz Sharon Horgan, está condenada desde o primeiro momento a não se casar com os telespectadores.


Tudo está mal. A começar pela apresentação das personagens principais e das razões da sua infelicidade matrimonial.
É que, mal a história começa, vemos apenas duas cenas que denotam a falta de química entre o casal de protagonistas: Primeiro, Robert, o marido, queixa-se de a mulher, Frances, estar a usar a casa-de-banho há imenso tempo. E ela, petulante, ignora-o.


Depois, vemo-los no carro a ouvir música. Robert desfruta do som elevado. E Frances desliga o rádio.
São apenas estas as informações que nos dão sobre as personagens. No momento seguinte, a acção foca-se numa festa de um casal problemático. Ao ver o culminar da discussão deles, Frances pede o divórcio a Robert, alegando não querer chegar a um ponto de saturação equivalente ao do dos amigos.


Com efeito, Frances pouco ou nada diz no episódio, mantendo-se numa bolha de passividade e observação, e Robert tem um ar de psicopata infeliz sem saber bem porquê. São os amigos do casal os verdadeiros protagonistas, roubando por completo as cenas em que surgem.


Só depois da "chamada para a aventura" é que descobrimos um pouco da vida da nossa pseudo-heroína: Tem, afinal, filhos, e um amante que só aparece a caminho do final do episódio. Amante, esse, surgindo numa única cena desprovida de sentido, que é, afinal, a razão principal de toda a zanga do casal (comprovada no segundo episódio), uma vez que Robert fica a par da traição da mulher e a expulsa de casa.


Estas informações - que, mesmo assim, são insuficientes para sentir empatia relativamente à protagonista - deveriam ter surgido em primeiro lugar no episódio. Para que nos enganchássemos na personagem principal, nas razões para o seu drama com o marido e na crescente tensão e vontade de romper com tudo.
Assim sendo, ficamos, primeiramente, com a ideia de que esta é a história de uma mulher desinteressante que está farta do marido, sem razão que o justifique, e que por isso se quer divorciar. Mas logo depois descobrimos que não é bem assim. Afinal, ela quer ficar com ele, mas como o homem descobre a traição e a põe fora de casa, esta é a história da luta dela contra o divórcio iminente.


Para além de que o trailer da série semeia uma ideia completamente diferente: a de que esta é a jornada de uma mulher que quer ter um divórcio bom e amigável, cujas expectativas saem goradas. E essa seria, com efeito, uma ideia original e potenciadora de momentos satisfatórios de comédia.


Honestamente, penso que nem os escritores sabem bem o que querem contar. Divorce é uma espécie de sopa, com uma mancheia de clichés matrimoniais triturados e temperados com desenxabidas, descompassadas e infelizes técnicas de escrita humorística, aliadas a um clima escuro e a um ritmo lento.


Ademais, os actores principais são péssimos. Sarah Jessica Parker mostra, mais uma vez, a sua inépcia para representar, ostentando apenas o cabelo Pantene, e Thomas Haden Church, ainda que se esforce, não consegue brilhar por si próprio.
Acredito que a história possa melhorar. Mas, até agora, este não passa de um produto que se esconde atrás de uma actriz principal famosa e de um clima sério para que pensemos que é bom. E nenhum telespectador com dois dedos de testa aceita casar com algo assim.

Divorce é transmitido aos Domingos, na HBO.

Classificação: ☆*




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